17 novembro 2007

Sentes o vazio? E a brisa?

Há ideias que nos fazem parar mesmo que tudo à nossa volta siga em velocidade expresso, que ficam cá dentro a fermentar e a pedir para serem concretizadas. Ideias que vão amadurecendo, chocando de frente com outras, sendo modificadas pelo que vivemos e nos vai tocando, pelo que nos magoa ou alegra. Ideias que crescem no encontro com os outros e no contraste com o mundo. Ideias que nem sequer devem ser originais, mas que são num instante da nossa vida novidade para nós.

No meio de tanto progresso material, científico, tecnológico; saio à rua e encontro as pessoas carrancudas, tensas, insatisfeitas. Alguns dias conseguimos mesmo notar como as pessoas andam todas irrequietas, frustradas e até mesmo agressivas de mais. Durante bastante tempo tentei entender o que é que leva tanta gente, que atingiu tantas coisas na vida, a comportar-se e sentir-se assim. Não me parece que seja só uma questão de educação, do lugar onde nasceramos, as escolas que frenquentaram... Acho que é a presença de um vazio interior que as faz "viver" assim. Às vezes esse vazio é assumido, outras vezes anda escondidíssimo atrás de um activismo que não tem fim e que é alternado com a procura de prazeres que entretem, cegam e calam momentaneamente aquela dorzinha que está lá sempre a moer.

Então existiu de facto progresso?! E porque é que esse progresso não serviu pra nos deixar mais realizados? O que é que progrediu afinal? A ciência e a tecnologia, é certo. Mas...e as pessoas?! Conquistámos o mundo exterior e simplesmente esquecemo-nos de nos descobrir, de perceber que há um mundo interior que precisa de ser descoberto e redescoberto todos os dias, que pede tempo e trabalho. E não me parece que alguma destas coisas chegue a mudar enquanto a grande preocupação do homem for “fazer” em vez da sua principal preocupação for “ser”… No entanto vivemos num mundo em que a Produtividade é a palavra de ordem, o dinheiro o 1º valor, torna-se complicado assim.

Tenho pensado que aquilo que nos realiza é o nosso auto-conhecimento, para conseguirmos dar resposta às nossas necessidades e também estar consciente de todo o potencial que temos para pôr ao dispor das nossas causas e afectos; são também as nossas relações humanas e a forma como nos entregamos a cada uma elas. Se por um lado o nosso conhecimento depende principalmente de nós, as relações já não funcionam bem assim e isso deixou-me a pensar um pouco mais nelas e no que é isto de Amar! Os irmãos, os pais, os amigos, o namorado, a mim mesma...

Penso que o Amor é a necessidade humana mais profunda que conheço, é aquela que nos liberta da prisão da solidão. O desejo de união é a força que une a família, os amigos, a sociedade... Às vezes quando surge o assunto "amor" no meio de conversas com os meus amigos, tenho algum cuidado com a forma como é empregue porque o que mais vejo por aí são relações em que não consigo encontrar Amor. São uma espécie de acordo pra ""bem" comum"...

Amar para mim é uma união que preserva e respeita a individualidade de cada um. Acaba com o isolamento mas deixa-me ser eu mesma! Talvez seja importante diferenciar a paixão do Amor: nesta primeira não sou propriamente senhora dos meus sentimentos, eles tomam-me, motivam-me e levam-me a agir; na segunda já sou bastante mais livre e mais que isso, consciente. Ao contrário da paixão, o Amor mais que um sentimento é uma vontade interior. Entrego-me porque quero! E desengane-se quem pensa que para isso precisamos nos privar de algo, precisamos de nos sacrificar. Damos aquilo que em nós está vivo: interesses, sentimentos, pensamentos, inseguranças, compreensão, carinho, humor, alegria e confiança. E são estas de longe as coisas mais valiosas que tenho...


O que é que o Amor nos pede afinal?! A mim pede-me pelo menos 4 coisas:
  • Cuidado e atenção: Cuidamos do que gostamos para que cresça forte e saudável;
  • Respeito: Ter capacidade de ver a pessoa, reconhecer e fomentar a sua unicidade com alegria, trabalhando a independência;
  • Conhecimento: Eu não saberia como respeitar, se não conhecesse. Não é um conhecimento qualquer, é aquele que quer ir ao fundo, que quanto mais conhece, mais percebe que há muito mais por conhecer e
  • Responsabilidade: ter capacidade de dar resposta às necessidades daqueles que amo.

E será que não precisamos de aprender a "ser" tudo isto?! Quem é que já consegue ser assim para as pessoas que ama?!


É giro como nas relações humanas o que "eu sei" pouco conta. Aquilo que vivemos e partilhamos é que faz delas especiais, memoráveis e tão deliciosas. O Amor é uma atitude de fundo que determina a forma como nos relacionamos com o mundo e connosco mesmos. Cada vez mais acredito que é de sua inteira responsabilidade a nossa realização.


ATENÇÃO:
Não assumo qualquer responsabilidade por mudanças de humor se começarem a Amar quem vos rodeia. Sorrir, andar bem disposto e sentir-se bem são consequências naturais deste processo. Qualquer outro sintoma estranho, favor consultar o seu coração e perceber o que se passa. Amar é saudavelmente perigoso, é ousado, é pra gente com estaleca, é para quem sonha com estilo. Mas atenção que às vezes magoa, doí. As pessoas não acertam sempre e pode acontecer de falharem contigo....da mesma forma que podes ser tu a falhar. Corres o risco?!

3 comments:

Como é maravilhoso esse estado de espírito...

Procurei encontrei. Não sei o que o caminho nos reserva - mas acredito que já percorreste uma boa parte. O amor é uma alegria que descobrimos ao olhar no espelho. E desse reflexo brilhante acabamos capazes de o oferecer ao mundo. Com generosidade. Com serenidade. Com alegria. Tu ensinas-me muito e eu grato fico...