06 agosto 2009

Monogamia: uma opção I

Nestes últimos tempos tenho estado entretida a pensar sobre a nossa cultura monogâmica, como é que ela se estrutura, os pesos e alegrias que acarreta, os casais e as famílias que gera.

• Porque será que escolhemos ser monogâmicos?
• Porque será que tantas pessoas não conseguem sê-lo sem o tomarem como uma castração profunda?
• Porque será que tantas outras falham ao compromisso esporadicamente ou de forma continuada?

Substantivo feminino singular
mo.no.ga.mi.a

1. estado de uma pessoa que convive de forma marital exclusiva com o parceiro
2. união de um macho com uma única fêmea
3. condição do monógamo

Estamos há muitos séculos organizados em sociedade desta forma. Provavelmente por acreditarmos ser, dentro das hipóteses possíveis, a que mais felicidade nos pode trazer. Claro que também herdámos essa cultura e abraçamo-la como nossa. A Igreja teve nos últimos séculos uma influência incrível nessa referência cultural pois sempre defendeu que a monogamia propicia a integridade familiar.

Outras hipóteses estruturais possíveis seriam a já conhecida poligamia e o mais recente conceito/movimento Poliamor. O Poliamor «defende a possibilidade prática e sustentável de se estar envolvido de modo responsável em relações íntimas, profundas e eventualmente duradouras com vários parceiros simultâneamente

Eu continuo a acreditar que de todas a hipóteses estruturais, aquela que resulta melhor para a generalidade das pessoas é a monogamia. Isto porque penso que a poligamia é de fundo desequilibrada. Já o poliamor precisaria de pessoas com uma abertura de mentalidade, uma confiança em si próprias estrondosa, que não fossem ser consumidas pelos ciúmes e inseguranças, de forma a viverem felizes nessa partilha continuada. Acho que já a dois não é fácil o equilíbrio, quanto mais a 5 ou a 6...

Logo voltei à casa de partida, a Monogamia como opção. No entanto as dúvidas permanecem. Porque há tanta insatisfação? :)

E aqui acaba a inocência dos contos de fadas, dos príncipes encantados e do "viveram felizes para sempre".
Não há pessoa alguma nesta terra que vá de encontro a todas as nossas expectativas e necessidades. Podemos encontrar pessoas que amamos imenso e que acabam por corresponder a grande parte das nossas necessidades e com quem sentimos querer partilhar a nossa vida toda, porque acreditamos poder ser felizes com elas. Serem intelectualmente estimulantes ou serem meiguinhas, serem aventureiras ou serem desportistas natas, ou serem... as 500 mil coisas que eu adoraria que a outra pessoa fosse. :)

Eu acredito que acabamos por compensar nas nossas amizades as lacunas das nossas relações, de forma a nos sentirmos mais inteiros. Também ao nos dedicarmos às relações, acabamos por investir mais nas partes em comum e deixar as outras um pouco mais de lado.

No entanto quanto mais nos dedicamos à relação, a não deixar que se torne monótona, igual, desinteressante, quanto mais crescemos em intimidade, menor a probabilidade de interesses "exteriores" captarem a nossa atenção. No entanto a monogamia é uma convenção, é um compromisso. E vive-se na dança entre a curiosidade pelo novo, pelo desconhecido e o conforto e a realização da intimidade profunda conquistada.

Acho que é uma balança onde pomos de um lado o que temos construído, e do outro novidades que me estimulam. E opto todos os dias por um dos pratos:
  1. Enquanto a balança pesa evidentemente para o lado do que temos construído, vivemos tranquilos uma monogamia escolhida e sentida. Não ignorando o que existe, opto por isto, estou feliz aqui.
  2. Quando a balança mexe e fica ali no meio, pode fazer-nos duvidar, mas assumimos um compromisso que provavelmente nos ajudará a decidir o que fazer. Afinal não vou estragar uma construção com N tempo, por um interesse momentâneo e pouco conhecido. Caprichos da minha curiosidade.
  3. E ainda pode acontecer da balança pender toda para o outro lado. E quando isso acontece e nada se faz, as pessoas acabam por viver uma monogamia frustrada, onde as opções que fizeram são fardos. Muitas vezes vivem paralisadas nesse estado e não fazem nada para inverter a balança para o que era, nem optam por romper com o passado construído. E acredito que é nestas situação que nascem a grande maioria das traições.

As traições são "quebras" ao código da monogamia, onde pomos em causa a confiança que o outro depositou em nós. Podemos tentar classificar as traições em 2 grupos:
- Sem ligação afectiva:
Uma vez ou de forma continuada com diferentes pessoas.
- Com ligação afectiva:
Uma vez ou de forma continuada com a pessoa com quem existe a ligação afectiva.

Existem também pessoas com estruturas familiares monogâmicas que depois internamente resolvem que o melhor para eles casal é terem relações abertas. Uma forma de na estrutura convencional de família não abdicarem de explorar novos mundos na sua sexualidade. Isto porque acredito que esse tipo de relação abre espaço no campo sexual, mas não abdica da sua fidelidade no campo emocional. Como é que isso depois funciona na prática, só mesmo conversando com alguém que de facto tenha vivido isso para descobrir.

Tudo isto são opções diárias, umas solitárias, outras a dois. ( ou a 5 ou a 6...hehehe para os mais ousados)

Para mim o que mais me "assusta" e ao mesmo tempo delicia é saber que o nosso coração tem capacidade de amar imensa gente. De modos diferentes, é certo, mas o nosso coração é tudo menos monogâmico. As paixões, essas sim, levam tudo atrás se deixarmos e fazem-nos pensar 25h/dia na pessoa "amada". Mas as paixões não duram para sempre, o amor, a intimidade, o caminho percorrido esses sim perduram...

11 comments:

:) Na Turquia a poligamia é uma tradição, legal, mas que hoje começa a perder adeptos e até a ser mal vista pela juventude (feminina).

Este é sem dúvida um assunto que interessa seja qual for a cultura, raça, idade e sexo.

Quando penso em poligamia, imagino logo a maior das minhas fantasias YHEAA HAPPY TIMES que qualquer homem com ou sem pelos no peito deseja um dia ter, ou sonha eheh; mas logo de seguida esta imagem desaparece, alias é substituida por uma horrenda que a de me imaginar a satisfazer o sonho do "simetrico" DASS. Não sei se me fiz entender mas o mesmo que se passa na cabeça dos homens sobre este assunto, não é descabida a ideia de pensar que as mulheres podem sentir os mesmos desejos/fantasias e isso... não ia ter piada nenhuma!

Poligamia sim mas à maxo latino que só funciona num dos sentidos heeheh.

Ok está provado que não funciona quer por esta razão quer por outras tais como ciúmes, impostos, levar as crianças à escola, cinema e mesmo "Ah, esta é a tua semana de ires à frente no lugar do passageiro"... hehe é engraçado mas forçar e tentar materializar esta ideia em algo concreto e real, torna-se muito interessante.

Homem chega a casa:

Maxo:"Queridas cheguei!"

Babe1: "Olá mor que tal o dia?"
babe2: "Olá mor que tal o dia?"

narrador:"fdx echo?"
...
(bem podia passar aqui horas, alias podia ter um blog só para isto LOL)

and the story goes on and on; mas deviamos todos experimentar :P

Sobre o Poliamor nunca ouvi falar nada mas se envolve um home e várias gajas, vou já ler :D heeheh

beijinhos, adoro a forma como escreves
Francisco, monogamico por imposição da sociedade eheheh

Maria...!! Sabes que no outro dia dei por mim a pensar num dos pontos de que falas...o facto de nos identificarmos com alguem e a eterna balanca. e se a balanca pende para o lado do "deixar ir", torna-se extremamente complicado voltar ao zero, voltar a encontrar pontos de interesse comum, identificar lacunas e formas de as suprir...pq sim, a paixao da-nos o sorriso parvo mas todo o resto traz...tudo. :)

Pak Karamu reading your blog

eu diria antes: Poligamia, uma opção. uma opção que deveria ser mais aceite pela sociedade, e não condenada como é. cada um faz as suas próprias escolhas e cada um sabe de si, de quem escolhe amar, com quem escolhe envolver-se, da confiança estrondosa que tem em si mesma. eu própria acho que não conseguiria ser poligâmica, mas admiro quem tem essa capacidade. sim, deveríamos definitivamente aceitar mais e melhor.

gostei do post.

beijinho

Ola...

Gostei bastante da postagem, tambem penso que para as pessoas monogamicas o importante é terem aquela pessoa bem do lado delas todos os momentos das suas vidas, alguem que lhes preencha os buracos e tenham as tais 500 mil coisas que elas adoram, mas não existe a perfeição, e não poderia haver no meu ponto de vista pois as chatices e as zangas é o que fortalece o casal quando tais sao ultrapassadas, e a paixao enquanto dura é dos sentimentos mais bonitos que se podem sentir... quando essa paixão diminui porque não acredito que acabe, aí as nossas emoções são controladas nao tanto pelo coração mas sim pelas nossas lembranças, pelos momentos bons e maus, por tudo que aquela pessoa nos fez de bem, nos fez rir, nos fez chorar, lembranças e pensamentos que nos dizem não trocava esta pessoa por nada... Nós precisamos de sentir a mão forte de alguem quando nos encontramos na maior confusão de tristezas, medos e chatices, e no momento que esses maus momentos sao ultrapssados nós necessitamos de alguem que nos olhe sorrindo dizendo nós juntos somos um só... (nós monogâmicos.
Quanto aos poli penso que sao livres de o ser e acho que a sociedade em que vivemos haveria de ser mais aberta mentalmente, e em vez de ligar tanto a preconceitos, haveria de olhar com alegria essas pessoas sendo felizes do jeito delas... Pois o mais importante é felicidade...

Adorei Cecilia ;) ahh e depois tens que me explicar uma cena... eh eh quando puderes..
Cumprimentos

Nossa! Adorei o seu blog! Achei muito interessante seu ponto de vista sobre a monogamia. Há tempos eu não criava coragem de refazer meu blog, mas agora estou voltando aos pouquinhos! Se não se importa, serei sua seguidora. Beijos!

:) Claro que não Mayla, seja bem vinda! :) E Bom trabalho no recomeço do seu blog ;) Farei uma visita!!

Adorei o blog, o texto e o comentário do Flávio...
Muito bom !

Em tempo: sou pela monogamia; dedicação exclusiva, já é dificil!

Beijos, Cecília. Parabéns !

Gostei do post e da linha de pensamento ao longo dele. Concordo com a visão que descreves.

Ri-me com este ponto:
"2. união de um macho com uma única fêmea"

Ora isto quer dizer que o inverso já não é monogamia: "união de uma femea com um unico macho" :P


Penso que grande parte nem opta pela monogamia... apenas assume que é assim que "se faz/deve fazer", com o risco de "a meio da viagem" descobrirem que afinal nem foi uma opção consciente, ponderada e por isso fundamentada e interiorizada.

Geralmente alguns desses são os que "caiem" nas situações de "epá, e pq não experimentar, p'ra n morrer estúpido?".


A poligamia quase sempre (pq quem generaliza, erra) poderá numa relação de subjugação de uma das partes, seja um par alfa que subjuga o resto do harém, seja apenas o/a dominador/a a subjugar o resto da maralha e assim se consegue um "tudo está bem" artificial e de pouco futuro.

Se já é dificil 2 se sincronizarem o melhor possivel e entenderem-se, nem imagino 3, 4, etc... ciumes, desconfiança, frustação, injustiça, tudo sentimentos que surgem de forma exponencial quanto mais pessoas se metem ao barulho.

...mas, acredito q hajam excepções em tudo né :)

PS: Desculpem lá o longo comentário :)

Koshdukai,

ehehheh não tens que pedir desculpa! :) És muito bem vindo, bem como os teus comentários!*
Aparece!!

Tenho pensado sobre o assunto, e ler este comentário foi agradável. Faltou tocar num ponto que é a poligamia desconhecida por alguns dos intervenientes, ou seja, preferem saber ou não que o vosso parceiro/a está também com outra pessoa?